terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Papel da Psicopedagogia na Educação

Psicopedagogia - Entrevista com Gleide Guimarães


Neste mês tenho a satisfação de publicar no blog, a entrevista de Gleide Gimarães, sobre Psicopedagogia. Por meio desta entrevista, poderemos compreender um pouco sobre o papel da Psicopedagogia com relação á aprendizagem, seu objeto de estudo, sua história no mundo e no Brasil e outras informações. É uma entrevista bastante esclarecedora e útil para quem ainda não conhece suficientemente a Psicopedagogia.
Gleide Guimarães, Educadora, Assistente Social e Psicopedagoga, gentilmente concedeu entrevista ao Mestre em Educação Brasileira Historiador Professor universitário, Francisco Sales, abordando sobre Psicopedagogia. Por meio dela, poderemos compreender um pouco sobre seu importante papel na educação.
Gleide Moreira Teixeira Guimarães tem pós-graduação Lato Sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Faculdade de Artes do Paraná, é Graduada em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador e tem formação em Pesquisas e Estudos Avançados em Dislexia e TDA-H. Atuou no Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária, como Educadora de Ação comunitária e no Instituto de Trabalho Dante Pellacani, coordenando projetos de inclusão.

O que é Psicopedagogia?

Gleide Guimarães: A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio, da família, da escola e da sociedade no seu desenvolvimento e utilizando procedimentos próprios. Está pautada numa multiplicidade de áreas de conhecimento, objetivando facilitar o processo de aprendizagem não apenas no ambiente escolar, mas em todos os âmbitos: cognitivo, afetivo e social.

Em qual contexto surge a Psicopedagogia?

Gleide Guimarães: Os primórdios da Psicopedagogia historicamente ocorreram na Europa, ainda no século XIX, evidenciada pela preocupação com os problemas de aprendizagem na área médica. Naquela época achava-se que os comprometimentos na área escolar eram provenientes de causas orgânicas, pois se procurava identificar no físico as determinantes das dificuldades do aprendente, vinculada à ação do médico.
O primeiro centro psicopedagógico foi criado em Paris em 1946. Médicos e pedagogos, cooperativamente, faziam um trabalho destinado a crianças com problemas escolares ou de comportamento, isto é, para aquelas que apresentavam doenças crônicas como diabetes, tuberculose, cegueira, surdez ou problemas motores.
Com o objetivo de melhorar a relação professor-aluno surge em 1958, no Brasil, o Serviço de Orientação Psicopedagógica da Escola Guatemala, na Guanabara (Escola Experimental do INEP - Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC).
A categoria profissional dos Psicopedagogos organizou-se no país com a divulgação da abordagem psico-neurológica do desenvolvimento humano. Sendo assim, a Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem, tornando-se uma área de estudo específica que busca conhecimento em outros campos e cria seu próprio objeto de estudo. Ocupa-se do processo de aprendizagem humana: seus padrões de desenvolvimento e a influência do meio nesse processo. É conhecida por atender crianças com dificuldades de aprendizagem, porém é fato que tais dificuldades, distúrbios e patologias podem aparecer em qualquer época da vida sendo também, objeto de estudo do psicopedagogo.

O que é preciso para ser um psicopedagogo?

Gleide Guimarães: Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os profissionais graduados em 3º grau, portadores de certificados de curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia, ministrado em estabelecimento de ensino oficial e/ou reconhecido, sendo indispensável submeter-se à supervisão e aconselhável trabalho de formação pessoal.
A formação do Psicopedagogo, no Brasil, vem ocorrendo em caráter regular e oficial, desde a década de setenta em instituições universitárias. Esta formação foi regulamentada pelo MEC em cursos de pós-graduação e especialização, com carga mínima de 360 horas. Atualmente existem cursos oficiais nos estados: Amazonas, Pará, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal, Sergipe, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
A Psicopedagogia está em vias de regulamentação da profissão, o que permitirá a normatização da formação e exercício profissional, possibilitando estender o atendimento psicopedagógico à população de baixa renda, por meio de convênios de assistência médica e sistemas públicos de saúde e educação.

Quando é que devemos recorrer aos serviços de um psicopedagogo?


Gleide Guimarães: A intervenção psicopedagógica tem como objetivo a assistência às pessoas que apresentam dificuldades de aprendizagem, sendo estas geralmente encaminhadas pelas escolas, com o objetivo de esclarecer as causas de suas dificuldades. Essas dificuldades de aprendizagem podem ser causadas por diversos fatores e cabe ao psicopedagogo descobri-las. Sendo assim, o Psicopedagogo deve ser procurado sempre que se perceber alguma dificuldade ou transtorno de aprendizagem, quando o estudante não vai bem no processo de aquisição do conhecimento, tem dificuldades em aprender, tem problemas escolares, é inquieto, desobediente, desinteressado, desatento ou agressivo.
Em geral a dificuldade é percebida quando a Orientadora solicita a presença da família constantemente na escola ou a professora pede ajuda e esse pedido de ajuda está ligado à aprendizagem. Ai então está na hora de procurar um Psicopedagogo.

Como é o trabalho do psicopedagogo? O que ele faz?

Gleide Guimarães: O trabalho psicopedagógico pode adquirir caráter preventivo, clínico, terapêutico ou de treinamento, o que amplia a área de atuação, seja ela escolar - orientando professores, realizando diagnósticos, facilitando o processo de aprendizagem, trabalhando as diversas relações humanas que existem nesse espaço; empresarial - realizando trabalhos de treinamento de pessoal e melhorando as relações interpessoais na empresa; clínica - esclarecendo e atenuando problemas; ou hospitalar - atuando junto à equipe multidisciplinar no pós-operatório de cirurgias ou tratamentos que afetem a aprendizagem.
Nosso objeto de estudo é o ser que apreende da realidade e constrói o seu conhecimento aprendendo. Portanto, para nós a aprendizagem é um processo de construção que se dá na interação permanente do sujeito com o meio que o cerca. Estudamos as características dessa aprendizagem: como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las.
Na Instituição o nosso trabalho é preventivo para evitar o aparecimento de problemas de aprendizagem, transformando a atenção individual em grupal, mobilizando o grupo e resgatando, ressignificando o sujeito e o outro (grupo), analisando os sintomas e considerando as relações que existem na instituição. Está mais voltada para a prevenção dos insucessos relacionais e de aprendizagem, se bem que muitas vezes, devemos considerar a prática terapêutica nas organizações como necessária.
Sendo assim, a Psicopedagogia na instituição e para a instituição não se ocupa exclusivamente de um indivíduo e suas particularidades. Ocupa-se sim do funcionamento geral, do processo e dos resultados do aprender em seu interior e do modo como tudo isto pode estar contribuindo para o aparecimento de dificuldades e/ou facilidades de aprendizagem, isto é, sem desvincular-se da concretude de sua origem, de sua história. O enfoque deixa de ser individual para se tornar social e amplia o âmbito da ação, podendo agir com a instituição ou com grupos que dela fazem parte, sem perder de vista a relação com o todo.
Já em Psicopedagogia Clínica realizamos um trabalho individual e terapêutico, tendo como missão retirar as pessoas da sua condição inadequada de aprendizagem, dotando-as de sentimentos de alta auto-estima e fazendo-as perceber suas potencialidades, recuperando desta forma, seus processos internos de apreensão de uma realidade, nos aspectos: cognitivo, afetivo-emocional e de conteúdos acadêmicos. O atendimento diferenciado pode ir além das questões-problema vinculadas à aprendizagem, podendo trazer à tona, mais facilmente, as razões que desencadeiam as necessidades individuais - às vezes alheias ao fator escola, que fazem com que as pessoas sintam-se excluídas, ou excluam-se a si mesmas do sistema educacional.
Desta forma o psicopedagogo contribui significativamente com todos os envolvidos no processo de aprendizagem, pois exerce seu trabalho de forma numa visão sistêmica, onde todos deverão ter seu “olhar” e sua “escuta” para o sujeito da aprendizagem.
O olhar do psicopedagogo, além de lúcido deve ser esclarecedor, sem julgamentos ou depreciações. Diante de um olhar assim, a aceitação flui naturalmente. E esta aceitação é a condição primeira, a mais necessária para que se inicie o caminho de cura, aliando a teoria à prática.
Concluindo, entre outras coisas, a Psicopedagogia pode levar o sujeito com dificuldades de aprendizagem a descobrir um novo espaço, um novo jeito de se relacionar com sua modalidade de aprendizagem, levando-o ao desejo de aprender e conseqüentemente favorecendo o seu processo de aprendizagem.

Qual a relevância do trabalho de um psicopedagogo?


Gleide Guimarães: É importante ressaltar a psicopedagogia como uma ciência nova que muito tem contribuído para explicar a causa das dificuldades de aprendizagem, pois tem como objetivo central de estudo o processo humano do conhecimento: seus padrões evolutivos normais e patologias bem como a influência (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento (Scoz, 1992; Kiquel, 1991)
A psicopedagogia, por contar com a contribuição de várias áreas do conhecimento, Psicologia, Sociologia, Antropologia, e outros, assume o papel de desmistificadora do fracasso escolar, entendendo o erro apresentado pelo indivíduo no processo de construção do seu conhecimento (Piaget), a as interações (Vygotsky), como fator importante no desenvolvimento das habilidades cognitivas. Sendo assim, o psicopedagogo assume papel relevante na abordagem e solução dos problemas de aprendizagem. Não lida diretamente com o problema, lida com as pessoas envolvidas. Lida com o aprendente, com os familiares e com os professores, levando em conta aspectos sociais, culturais, econômicos e psicológicos.
Percebo que a Psicopedagogia também tem papel importante na inserção e manutenção dos alunos com necessidades educativas especiais, comumente chamada inclusão. Entendo que colocar o aluno com necessidades educativas especiais em sala de aula e não criar estratégias para a sua permanência e sucesso escolar inviabiliza todo o movimento nas escolas. Nesse sentido, faz-se premente a necessidade de um acompanhamento e estimulação destes estudantes para que as suas aprendizagens sejam efetivas.
O trabalho do psicopedagogo é terapêutico e centrado na aprendizagem, mas levando-se em consideração o aprendente como um todo, seu meio e suas relações, cabendo a ele, em primeiro lugar, estabelecer um vínculo positivo com o aprendiz, a fim de proporcionar o resgate do prazer de aprender.
Para aprofundar-se no assunto

Livros:
BEAUCLAIR, João. Para Entender Psicopedagogia: Perspectivas atuais desafios futuros. Wak: Rio de Janeiro, 2006.
BOSSA, Nádia. Um Diálogo Entre a Psicopedagogia e a Educação. Curitiba: Bolsa Educacional do Livro, 2008.
BARBOSA, Laura Monte Serrat. A Psicopedagogia no Âmbito da Instituição Escolar. Curitiba: Expoente, 2001.
ANDREOZZI, Maria Luiza. Piaget e a Intervenção Psicopedagógica. São Paulo: Olho D’Água, 2007.
FERNANDÉZ, Alícia. Uma Mulher Escondida na Professora. Porto Alegre: Artmed, 1994.
PITOMBO, Elisa Maria & Pugliese, Ana Lúcia. Estudo sobre o aprendizado escolar. Psicopedagogia, um portal para a inserção social. Petrópolis: Vozes, 2003.

Filmes:
“Como Uma Estrela na Terra – Toda Criança é Especial” do diretor/ator Aamir Khan;
“Elefante”, filme do diretor Gus Van Sant;
“Gaby - Uma História Verdadeira” do diretor Luis Mandok;
“Em Busca da Terra do Nunca” do diretor Marc Forster.

Sites:
http://cops-clinicapsicopedagogica.webnode.com.br/
http://atelierdeducadores.blogspot.com/

5 comentários:

  1. RÊ gostaria que todos os professores tivessem um curso deste em sua vida acadêmica. Pois quando nos damos conta estamos na sala de aula com diversos problemas e não sabemos como resolver. Que Deus nos abençoe e nos dê estratégias para lidarmos com esses alunos e saber realmente levá-los ao aprendizado, mesmo com tanta falta de interesse deles. Beijos Catia e parabéns pelo blog.

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  2. Querida e linda professora ...
    Sou amiga da Telva tive a felicidade de conhece-la pessoalmente.
    E vi você em visita no blog dela estou seguindo seu blog ñ sou professora mais vcs professaras.
    Deixando meu convite para conhecer meu blog e seguir meus passos .Um lindo final de semana beijos,Evanir.
    www.fonte-amor.zip.net

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  3. Regina, vim retribuir sua visita e adorei esta entrevista. Quero também fazer pós em Psico e sempre passarei por aqui.

    beijos e boa semana!

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  4. Oi Regina,
    Fico feliz por você ter publicado aqui nossa entrevista com Gleide Guimarães, dando as devidas referências. Parabenizo você por suas propostas neste blog e pela ética. Abraços!!!

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  5. Oi Regina
    Como já coloquei em outras oportunidades, parabenizo você por seu blog que tem uma belíssima proposta e sempre nos presenteia com novidades ricas e atuais.
    Tenho muito orgulho de ver a entrevista que fiz com Sales para o blog ateliededucadores em seu blog. É bom perceber que ela despertou o desejo de busca em outros profissionais preocupados com as questões da aprendizagem.
    Continue nos brindando com seu blog.
    Beijos,
    Gleide

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