Grandes pensadores da Educação

(foto divulgação)

Por trás do trabalho de cada professor, em qualquer sala de aula do mundo, estão séculos de reflexões sobre o ofício de educar. Mesmo os profissionais de ensino que não conhecem a obra de Aristóteles (384-322 a.C.), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) ou Émile Durkheim (1858-1917) trabalham sob a influência desses pensadores, na forma como suas idéias foram incorporadas à prática pedagógica, à organização do sistema escolar, ao conteúdo dos livros didáticos e ao currículo docente.
Antes mesmo de existirem escolas, a educação já era assunto de pensadores. Um dos primeiros foi o grego Sócrates (469-399 a.C.), para quem os jovens deveriam ser ensinados a conhecer o mundo e a si mesmos. Para seu discípulo Platão (427-347 a.C.), o conhecimento só poderia ser alcançado num plano ideal e nem todos estariam preparados para esse esforço. Aristóteles, discípulo de Platão, inverteu as prioridades e defendeu o estudo das coisas reais como um meio de adquirir sabedoria e virtude. O sistema de ensino que ele preconizou era acessível a um número maior de pessoas.
Abaixo estão listadas algumas personalidades que mudaram o jeito de pensar e fazer educação:

Anísio Teixeira


 
 



Anísio Teixeira foi um dos idealizadores do movimento Escola Nova nos anos 30
Anísio Spínola Teixeira nasceu em 12 de julho de 1900 em Caetité (BA). Filho de fazendeiro, estudou em colégios de jesuítas na Bahia e cursou direito no Rio de Janeiro. Diplomou-se em 1922 e em 1924 já era inspetor-geral do Ensino na Bahia. Viajando pela Europa em 1925, observou os sistemas de ensino da Espanha, Bélgica, Itália e França e com o mesmo objetivo fez duas viagens aos Estados Unidos entre1927 e 1929. De volta ao Brasil, foi nomeado diretor de Instrução Pública do Rio de Janeiro, onde criou entre 1931 e 1935 uma rede municipal de ensino que ia da escola primária à universidade. Perseguido pela ditadura Vargas, demitiu-se do cargo em 1936 e regressou à Bahia – onde assumiu a pasta da Educação em 1947. Sua atuação à frente do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos a partir de 1952, valorizando a pesquisa educacional no país, chegou a ser considerada tão significativa quanto a Semana da Arte Moderna ou a fundação da Universidade de São Paulo. Com a instauração do governo militar em 1964, deixou o instituto – que hoje leva seu nome – e foi lecionar em universidades americanas, de onde voltou em 1965 para continuar atuando como membro do Conselho Federal de Educação. Morreu no Rio de Janeiro em março de 1971.
Considerado o principal idealizador das grandes mudanças que marcaram a educação brasileira no século 20, Anísio Teixeira foi pioneiro na implantação de escolas públicas de todos os níveis, que refletiam seu objetivo de oferecer educação gratuita para todos. Como teórico da educação, Anísio não se preocupava em defender apenas suas idéias. Muitas delas eram inspiradas na filosofia de John Dewey (1852-1952), de quem foi aluno ao fazer um curso de pós-graduação nos Estados Unidos.
Dewey considerava a educação uma constante reconstrução da experiência. Foi esse pragmatismo, observa a professora Maria Cristina Leal, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que impulsionou Anísio a se projetar para além do papel de gestor das reformas educacionais e atuar também como filósofo da educação. A marca do pensador Anísio era uma atitude de inquietação permanente diante dos fatos, considerando a verdade não como algo definitivo, mas que se busca continuamente. Para o pragmatismo, o mundo em transformação requer um novo tipo de homem consciente e bem preparado para resolver seus próprios problemas acompanhando a tríplice revolução da vida atual: intelectual, pelo incremento das ciências; industrial, pela tecnologia; e social, pela democracia. Essa concepção exige, segundo Anísio, “uma educação em mudança permanente, em permanente reconstrução”.

Célestin Freinet




 
 
 
 
 
 
  Freinet se identificava com a corrente da Escola Nova, anti-conservadora
 
Célestin Freinet nasceu em 1896 em Gars, povoado na região da Provence, sul da França. Foi pastor de rebanhos antes de começar a cursar o magistério. Lutou na Primeira Guerra Mundial em 1914, quando os gases tóxicos do campo de batalha afetaram seus pulmões para o resto da vida. Em 1920, começou a lecionar na aldeia de Bar-sur-Loup, onde pôs em prática alguns de seus principais experimentos, como a aula-passeio e o livro da vida. Em 1925, filiou-se ao Partido Comunista Francês. Dois anos depois, fundou a Cooperativa do Ensino Leigo, para desenvolvimento e intercâmbio de novos instrumentos pedagógicos. Em 1928, já casado com Élise Freinet (que se tornaria sua parceira e divulgadora), mudou-se para Saint-Paul de Vence, iniciando intensa atividade. Cinco anos depois, foi exonerado do cargo de professor. Em 1935, o casal Freinet construiu uma escola própria em Vence. Durante a Segunda Guerra, o educador foi preso e adoeceu num campo de concentração alemão. Libertado depois de um ano, aderiu à resistência francesa ao nazismo. Recobrada a paz, Freinet reorganizou a escola e a cooperativa em Vence. Em 1956, liderou a vitoriosa campanha 25 Alunos por Classe.

No ano seguinte, os seguidores de Freinet fundaram a Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que hoje reúne educadores de cerca de 40 países. Freinet morreu em 1966.
Muitos dos conceitos e atividades escolares idealizados pelo pedagogo francês Célestin Freinet se tornaram tão difundidos que há educadores que os utilizam sem nunca ter ouvido falar no autor. É o caso das aulas-passeio (ou estudos de campo), dos cantinhos pedagógicos e da troca de correspondência entre escolas. Não é necessário conhecer a fundo a obra de Freinet para fazer bom uso desses recursos, mas entender a teoria que motivou sua criação deverá possibilitar sua aplicação integrada e torná-los mais férteis.
Freinet se inscreve, historicamente, entre os educadores identificados com a corrente da Escola Nova, que, nas primeiras décadas do século 20, se insurgiu contra o ensino tradicionalista, centrado no professor e na cultura enciclopédica, propondo em seu lugar uma educação ativa em torno do aluno. O pedagogo francês somou ao ideário dos escolanovistas uma visão marxista e popular tanto da organização da rede de ensino como do aprendizado em si. “Freinet sempre acreditou que é preciso transformar a escola por dentro, pois é exatamente ali que se manifestam as contradições sociais”, diz Rosa Maria Whitaker Sampaio, coordenadora do pólo São Paulo da Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), que congrega seguidores de Freinet.
Na teoria do educador francês, o trabalho e a cooperação vêm em primeiro plano, a ponto de ele defender, em contraste com outros pedagogos, incluindo os da Escola Nova, que “não é o jogo que é natural da criança, mas sim o trabalho. Seu objetivo declarado é criar uma “escola do povo.

 
Emilia Ferreiro
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os livros de Emilia Ferreiro chegaram aqui nos anos 80 e logo alcançaram grande repercussão
 
Emilia Ferreiro nasceu na Argentina em 1936. Doutorou-se na Universidade de Genebra, sob orientação do biólogo Jean Piaget, cujo trabalho de epistemologia genética (uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança) ela continuou, estudando um campo que o mestre não havia explorado: a escrita. A partir de 1974, Emilia desenvolveu na Universidade de Buenos Aires uma série de experimentos com crianças que deu origem às conclusões apresentadas em Psicogênese da Língua Escrita, assinado em parceria com a pedagoga espanhola Ana Teberosky e publicado em 1979. Emilia é hoje professora titular do Centro de Investigação e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, da Cidade do México, onde mora. Além da atividade de professora – que exerce também viajando pelo mundo, incluindo freqüentes visitas ao Brasil –, a psicolingüista está à frente do site www.chicosyescritores.org, em que estudantes escrevem em parceria com autores consagrados e publicam os próprios textos.

Nenhum nome teve mais influência sobre a educação brasileira nos últimos 20 anos do que o da psicolingüista argentina Emilia Ferreiro. A divulgação de seus livros no Brasil, a partir de meados dos anos 1980, causou um grande impacto sobre a concepção que se tinha do processo de alfabetização, influenciando as próprias normas do governo para a área, expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais. As obras de Emilia – Psicogênese da Língua Escrita é a mais importante – não apresentam nenhum método pedagógico, mas revelam os processos de aprendizado das crianças, levando a conclusões que puseram em questão os métodos tradicionais de ensino da leitura e da escrita. “A história da alfabetização pode ser dividida em antes e depois de Emilia Ferreiro”, diz a educadora Telma Weisz, que foi aluna da psicolingüista.
Emilia Ferreiro se tornou uma espécie de referência para o ensino brasileiro e seu nome passou a ser ligado ao construtivismo, campo de estudo inaugurado pelas descobertas a que chegou o biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) na investigação dos processos de aquisição e elaboração de conhecimento pela criança – ou seja, de que modo ela aprende. As pesquisas de Emilia Ferreiro, que estudou e trabalhou com Piaget, concentram o foco nos mecanismos cognitivos relacionados à leitura e à escrita. De maneira equivocada, muitos consideram o construtivismo um método.
Tanto as descobertas de Piaget como as de Emilia levam à conclusão de que as crianças têm um papel ativo no aprendizado. Elas constroem o próprio conhecimento – daí a palavra construtivismo. A principal implicação dessa conclusão para a prática escolar é transferir o foco da escola – e da alfabetização em particular – do conteúdo ensinado para o sujeito que aprende, ou seja, o aluno. “Até então, os educadores só se preocupavam com a aprendizagem quando a criança parecia não aprender”, diz Telma Weisz. “Emilia Ferreiro inverteu essa ótica com resultados surpreendentes.”


Henri Wallon







 Wallon levou não só o corpo da criança mas também suas emoções para dentro da sala de aula

Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu em Paris, França, em 1879. Graduou-se em medicina e psicologia. Fez também filosofia. Atuou como médico na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Em 1925, criou um laboratório de psicologia biológica da criança. Quatro anos mais tarde, tornou-se professor da Universidade Sorbonne e vice-presidente do Grupo Francês de Educação Nova – instituição que ajudou a revolucionar o sistema de ensino daquele país e da qual foi presidente de 1946 até morrer, também em Paris, em 1962. Ao longo de toda a vida, dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da inteligência nas crianças.
Militante de esquerda, participou das forças de resistência contra
Adolf Hitler e foi perseguido pela Gestapo (a polícia política nazista) durante a Segunda Guerra (1939-1945). Em 1947, propôs mudanças estruturais no sistema educacional francês. Coordenou o projeto Reforma do Ensino, conhecido como Langevin-Wallon – conjunto de propostas equivalente à nossa Lei de Diretrizes e Bases. Nele, por exemplo, está escrito que nenhum aluno deve ser reprovado numa avaliação escolar. Em 1948, lançou a revista Enfance, que serviria de plataforma de novas idéias no mundo da educação – e que rapidamente se transformou numa espécie de bíblia para pesquisadores e professores.
Falar que a escola deve proporcionar formação integral (intelectual, afetiva e social) às crianças é comum hoje em dia. No início do século passado, porém, essa idéia foi uma verdadeira revolução no ensino. Uma revolução comandada por um médico, psicólogo e filósofo francês chamado Henri Wallon. Sua teoria pedagógica, que diz que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro, abalou as convicções numa época em que memória e erudição eram o máximo em termos de construção do conhecimento.
Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas idéias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Militante apaixonado (tanto na política como na educação), dizia que reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir. Ou seja, “a própria negação do ensino”.
As emoções, para Wallon, têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral são manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino.

Jean Piaget






 
 
  Piaget acreditou e comprovou que o conhecimento vem das descobertas que a criança faz
Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 1896. Aos 10 anos publicou seu primeiro artigo científico, sobre um pardal albino. Desde cedo interessado em filosofia, religião e ciência, formou-se em biologia na Universidade de Neuchâtel e, aos 23 anos, mudou-se para Zurique, onde começou a trabalhar com o estudo do raciocínio da criança sob a ótica da psicologia experimental. Em 1924, publicou o primeiro de mais de 50 livros, A Linguagem e o Pensamento na Criança. Antes do fim da década de 1930, já havia ocupado cargos importantes nas principais universidades suíças, além da diretoria do Instituto Jean-Jacques Rousseau, ao lado de seu mestre, Édouard Claparède (1873-1940). Foi também nesse período que acompanhou a infância dos três filhos, uma das grandes fontes do trabalho de observação do que chamou de "ajustamento progressivo do saber". Até o fim da vida, recebeu títulos honorários de algumas das principais universidades européias e norte-americanas. Morreu em 1980 em Genebra, na Suíça.
Jean Piaget foi o nome mais influente no campo da educação durante a segunda metade do século 20, a ponto de quase se tornar sinônimo de pedagogia. Não existe, entretanto, um método Piaget, como ele próprio gostava de frisar. Ele nunca atuou como pedagogo. Antes de mais nada, Piaget foi biólogo e dedicou a vida a submeter à observação científica rigorosa o processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança. Do estudo das concepções infantis de tempo, espaço, causalidade física, movimento e velocidade, Piaget criou um campo de investigação que denominou epistemologia genética – isto é, uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança. Segundo ele, o pensamento infantil passa por quatro estágios,
desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida.
“A grande contribuição de Piaget foi estudar o raciocínio lógico-matemático, que é fundamental na escola mas não pode ser ensinado, dependendo de uma estrutura de conhecimento da criança”, diz Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
As descobertas de Piaget tiveram grande impacto na pedagogia, mas, de certa forma, demonstraram que a transmissão de conhecimentos é uma possibilidade limitada. Por um lado, não se pode fazer uma criança aprender o que ela ainda não tem condições de absorver. Por outro, mesmo tendo essas condições, não vai se interessar a não ser por conteúdos que lhe façam falta em termos cognitivos.
Isso porque, para o cientista suíço, o conhecimento se dá por descobertas que a própria criança faz – um mecanismo que outros pensadores antes dele já haviam intuído, mas que ele submeteu à comprovação na prática. Vem de Piaget a idéia de que o aprendizado
é construído pelo aluno e é sua teoria que inaugura a corrente construtivista. Educar, para Piaget, é “provocar a atividade” – isto é, estimular a procura do conhecimento. “O professor não deve pensar no que a criança é, mas no que ela pode se tornar”, diz Lino de Macedo
Com Piaget, ficou claro que as crianças não raciocinam como os adultos e apenas gradualmente se inserem nas regras, valores e símbolos da maturidade psicológica. Essa inserção se dá mediante dois mecanismos: assimilação e acomodação.
O primeiro consiste em incorporar objetos do mundo exterior a esquemas mentais reexistentes. Por exemplo: a criança que tem a idéia mental de uma ave como animal voador, com penas e asas, ao observar um avestruz vai tentar assimilá-lo a um esquema que não corresponde totalmente ao conhecido. Já a acomodação se refere a modificações dos sistemas de assimilação por influência do mundo externo. Assim, depois de aprender que um avestruz não voa, a criança vai adaptar seu conceito “geral” de ave para incluir as que não voam.



Lev Vygostsky







Lev Vygotsky morreu há mais de 70 anos, mas sua obra continua em pleno processo de descoberta

-Lembro que durante os quatro anos de magistério nunca consegui escrever o nome do Vygotsky corretamente, só aprendi no 2º ano da faculdade de psicologia (risos)...
Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 1896 em Orsha, pequena cidade perto de Minsk, a capital da Bielo-Rússia, região então dominada pela Rússia (e que só se tornou independente em 1991, com a desintegração da União Soviética, adotando o nome de Belarus). Seus pais eram de uma família judaica culta e com boas condições econômicas, o que permitiu a Vygotsky uma formação sólida desde criança. Ele teve um tutor particular até entrar no curso secundário e se dedicou desde cedo a muitas leituras. Aos 18 anos, matriculou-se no curso de medicina em Moscou, mas acabou cursando a faculdade de direito. Formado, voltou a Gomel, na Bielo-Rússia, em 1917, ano da revolução bolchevique, que ele apoiou. Lecionou literatura, estética e história da arte e fundou um laboratório de psicologia – área em que rapidamente ganhou destaque, graças a sua cultura enciclopédica, seu pensamento inovador e sua intensa atividade, tendo produzido mais de 200 trabalhos científicos. Em 1925, já sofrendo da tuberculose que o mataria em 1934, publicou A Psicologia da Arte, um estudo sobre Hamlet, de William Shakespeare, cuja origem é sua tese de mestrado.
O psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky morreu há 74 anos, mas sua obra ainda está em pleno processo de descoberta e debate em vários pontos do mundo, incluindo o Brasil. “Ele foi um pensador complexo e tocou em muitos pontos nevrálgicos da pedagogia contemporânea”, diz Teresa Rego, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Ela ressalta, como exemplo, os pontos de contato entre os estudos de Vygotsky sobre a linguagem escrita e o trabalho da argentina Emilia Ferreiro, a mais influente dos educadores vivos.
A parte mais conhecida da extensa obra produzida por Vygotsky em seu curto tempo de vida converge para o tema da criação da cultura. Aos educadores interessa em particular os estudos sobre desenvolvimento intelectual. Vygotsky atribuía um papel preponderante às relações sociais nesse processo, tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo.

Rubem Alves






Rubem Alves é um escritor contemporâneo brasileiro formado em várias áreas de humanidades. Em filosofia formou-se na UNICAMP Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro.
Nasceu em Boa Esperança no dia 15 de setembro de 1933. Estudou teologia, Psicanálise, tornando-se professor, educador e escritor. Dentre seus muitos Livros escreveu uma obra chamada: A Alegria de Ensinar. Neste livro ele fala sobre a dinâmica pedagógica, da interação entre aluno e professor, mostrando que o ensino vai além de métodos formalizados e técnicas específicas.
Rubem diz que somos totalmente condicionados desde a tenra idade a agir nos padrões sociais determinados quanto ao ensino e o aprendizado. O professor é condicionado a ensinar baseado em parâmetros insensíveis ao aluno, fundamentado em métodos e dinâmicas já ultrapassados. Os alunos por sua vez se alienam na busca inexorável por reconhecimento social se limitando apenas ao pouco que lhe é ensinado, uma vez que raramente compartilham de novos interesses em assuntos diversos. Fato é que os alunos não são ensinados na liberdade de um espírito autodidata submisso a verdade. No Brasil, por exemplo, o número de universitários que são analfabetos funcionais, demonstra a forma estúpida de como os tais são incentivados. Existe nisso apenas uma busca de interesses e não de conhecimento vivo e palpável. Busca-se apenas o papel chamado diploma, mas não encarnam o conhecimento, coisa essa fundamental para a autenticação de uma disciplina qualquer. Assim sendo a pedagogia deveria ser vivenciada de forma intensa visando o indivíduo pelo coletivo e não o coletivo pelo indivíduo. O professor nesse caso teria a incumbência de não apenas ensinar, mas também incentivar de forma relevante ao ponto de agregar em seus alunos novos valores e mais do que isso criar um ambiente de liberdade imaginativa. Uma das célebres frases de Rubem Alves é a seguinte: “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.” Ora, essa frase claramente nos remete ao ensino visceral e não dogmático, com vias no total incentivo a imaginação, a criatividade e não apenas a metodologia e o aperfeiçoamento do QI.
O ensino em sua forma tradicional (salvo raras exceções) promulga o comodismo nos alunos, levando-os a se preocuparem apenas com a prova que terão em suas escolas e não com a prova que terão na vida. Ora, se o conhecimento que recebem não se concretizar na prática, para que serve senão para elitismo e status social? A contingência de algumas disciplinas talvez dificulte um pouco o lado criativo dos alunos, porém tal dificuldade jamais poderia ser motivo de total inibição. As escolas ou professores que agem como aquele que lança um pássaro na gaiola cometem um verdadeiro “Crime” contra a humanidade e seu desenvolvimento. Poucos são os alunos que conseguem liberar seu poder criativo conquanto buscadores criteriosos do elemento verdadeiro, ainda que teórico, em suas disciplinas específicas.
Rubem diz: “Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.” Sendo, portanto a essência do pássaro o vôo, o mesmo uma vez descobrindo sua potência, já não poderia se contentar com menos que isso. Assim toda forma de dogmatismo escolásticos promulgaria nele um senso crítico exagerado, inibindo de certa forma seu potencial criativo, já que todas as sua forças são direcionadas para a crítica, posto que a estrutura de ensino essencial a ele o limita de forma esmagadora. Fato é que poucos alunos se tornam desbravadores ao ponto de revolucionar seu próprio aprendizado, porque isso em primeira instância é uma responsabilidade do professor.
Aqui entra o problema social agindo diretamente no contexto da educação. Uma vez que os próprios professores não recebem incentivo financeiro, já não demonstram tanto interesse pela sua profissão, não digo só pelo apelo mercenário daqueles indivíduos desvirtuados que não dão a mínima para sua responsabilidade como educador, falo também daqueles que sem condições sustentáveis buscam outras fontes de renda que lhe tomam o tempo e a dedicação necessária. Muitos são os professores que dão aula em escolas diferentes inibindo assim seu tempo de pesquisa, essencial para um desenvolvimento mais dinâmico de suas aulas. Isso atinge diretamente os alunos.
A frieza da amargura que há entre Estado e Educação, uma vez que o Estado não tem o tempo hábil para lidar com novas demandas e até mesmo proporcionar o gerenciamento amigável com seus educadores, no que se refere à escola pública, trás malefícios patentes na conjuntura social. O professor ressentido não está apto ao incentivo e neste recalque se encontram seus alunos como indivíduos dependentes do mesmo. A força motriz do educador em termos gerais seria seu próprio espírito e tomando a liberdade do uso de uma linguagem mais abstrata diria que Rubem Alves propõe a idéia de que o professor a princípio deveria ser como um pastor de ovelhas que gradativamente proporcionaria autonomia a elas pela graduação de seu próprio desenvolvimento. Para ele o ensino parte de um relacionamento antes de partir de uma estrutura. A estrutura da ao educador subsídio e limites necessários para que ele ministre sua matéria, mas não é ela a força motriz que o mantém na sala de aula ou que o torne um verdadeiro contribuinte na educação em geral. Tendo por espírito a força visceral, podemos concluir que é através dessa prerrogativa que os alunos serão desafiados, incentivados e preparados para a contingência não só do mercado, mas também da vida. Falando em termos de existência, muitas vezes achamos que a responsabilidade primordial é da família, mas o educador como sendo constituído para tal função de forma obviamente ética pode lidar com o conhecimento emocional de seus alunos e deve sem dúvida exercer grande influencia sobre eles dentro do arcabouço de sua matéria e nos parâmetros de um relacionamento humano saudável.
Rubem Alves também cita uma ordem de coisas em relação a pedagogia, vejamos: “Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.” Aqui, entramos no pano de fundo do conceito do autor a respeito da educação. Os alunos são potenciais. Eles não são copos vazios, onde o professor enche do liquido que desejar. Eles geralmente são assim pelo castramento que recebem pelas convenções. Uma vez castrados já não podem liderar sua própria didática ou desenvolver criatividade. Pássaro que é pássaro não pode ter suas asas cortadas. A inocência do aluno não pode ser perdida pela legislação de um regime educativo limitador, posto que aos inocentes não se é exigido a prerrogativa de qualquer regra que tome o lugar do relacionamento vivo e interpessoal. Regras são frias, e rígidas e não podem abarcar a ética que um relacionamento interpessoal exige. Disciplina nasce autentica pelas vias da sabedoria e não meramente da estrutura. A validação da estrutura é apenas um quebra galho necessário pela praticidade que propõe, mas a longo prazo atrofia os elementos inseridos nela.
A segurança que a regra proporciona é justamente a zona de conforto que impede o desenvolvimento do indivíduo como soma. O homem como ser psicossomático deve ser compreendido de forma integral e não reducionista e fragmentada como no regime de ensino que engolimos anos a fio. Sendo assim a única forma de ensino viável se queremos ajudar na educação de pessoas mais aperfeiçoadas, é o ensino espontâneo, no sentido mais puro de sua flexibilidade. Através de uma visão sociológica o professor poderia se adaptar aos seus alunos de maneira a ensinar-lhes as entranhas de seu legado, mas não prende-los a mediocridade apelativa de seus devaneios. Aprisionar os alunos em nome da liberdade seria a arte suprema do educador que promulga seu ensino para a existência.
Na prática os professores deveriam abandonar um pouco daquele tom autoritário, deveriam deixar de ver tudo de maneira extremamente truncada e literalmente se associar aos alunos, nos limites do bom senso de todo professor. Deveria se abrir a uma influencia mútua, dando mais valor ao caráter social do evento do que ao rigor estrutural que diz que ele é apenas um professor e que os outros seriam apenas alunos.
A consciência do professor e do aluno sendo mudadas pela oportunidade de se conhecer novas pessoas que tiveram experiências diferentes e que enriquecem umas as outras de forma natural e espontânea, com isso não digo que o professor deva abandonar a primazia, mas mais do que ter a primazia ele deve facilitar o ambiente para o aluno.